21/04/2016

Transtorno de Personalidade Esquizoide

esquizoideO Transtorno de Personalidade Esquizoide é caracterizado por um padrão de desconexão das relações sociais e de restrição da expressão emocional (DSM-IV). Assim como no Transtorno de Personalidade Paranoide, é raro que pacientes com Transtorno de Personalidade Esquizoide batam à porta do psicólogo ou psiquiatra em busca de mudanças. Muitas vezes, a contragosto, são levados por familiares preocupados com o comportamento do indivíduo com esse transtorno. Não é de se estranhar, então, que os estudos sobre o tema sejam escassos. Claro que existem exceções. Alguns pacientes procuram ajuda por não suportarem a dolorosa solidão.

Diagnóstico

Além da característica descrita acima, o DSM-IV-TR (quarta edição revisada) estabelece que para o diagnóstico do Transtorno de Personalidade Esquizoide o indivíduo deve apresentar pelo menos quatro dos seguintes critérios:
  1. não deseja, nem gosta de relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte de uma família;
  2. quase sempre opta por atividades solitárias;
  3. manifesta pouco, se algum, interesse em ter experiências sexuais com um parceiro;
  4. tem prazer em poucas atividades, se alguma;
  5. não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que não parentes em primeiro grau;
  6. mostra-se indiferente a elogios ou críticas e;
  7. demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo.
Embotamento afetivo é a dificuldade em expressar emoções e sentimentos.
Apesar do DSM dar uma lista relativamente fácil, taxativa e descomplicada, o diagnóstico deve ser feito por profissionais da saúde mental. As vezes um paciente pode ter traços de personalidade esquizoide junto com traços de outros transtornos. Alguns critérios não são exclusivos de um transtorno, podendo aparecer em outro. Um exemplo claro disso é o Transtorno de Personalidade Esquizotípica, que também tem como critério o item 5 descrito acima: não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que não parentes em primeiro grau. Outro exemplo é a semelhança com o autismo ou síndrome de Asperger.

A contradição

Se esses indivíduos, como descrito pelo DSM, preferem a solidão, por que então alguns procuram o psicólogo justamente por não aguentarem a mesma?
Acontece que preferir a solidão não significa exatamente desejá-la. Neste transtorno acontece uma espécie de “rejeição preventiva”, ou seja, a frase “se eu te rejeitar primeiro, não corro o risco de ser rejeitado por você” define bem o  estilo de pensamento dos esquizoides.
“Falar pelos cotovelos”, como a metafórica e conhecida expressão popular diz, não significa necessariamente contato emocional. Sendo assim, tanto na psicoterapia quanto nas interações sociais o indivíduo com este transtorno pode (em alguns casos) se comunicar muito bem e externamente demonstrar desenvoltura para se relacionar, porém internamente se sentir incomodado e com vontade de cessar o contato.

Tratamento

Tanto a psicoterapia individual quanto de grupo são indicadas no tratamento do Transtorno de Personalidade Esquizoide, mas pela ansiedade que a relação forçada pode provocar numa terapia de grupo, provavelmente o paciente se sinta mais à vontade na individual.
É na psicoterapia que o indivíduo tem uma nova experiência de relação, podendo ter uma nova experiência maturacional, pois o psicoterapeuta não se afastará como as outras pessoas, permitindo uma interação de maior prazo.

O silêncio

Pacientes esquizoides não se relacionam, por isso o silêncio com que o psicólogo se depara nas sessões com essas pessoas deve ser pacientemente entendido como a “forma de comunicação” essencial deles e não como uma fuga ou defesa. É assim que os esquizoides aprenderam a interagir com o mundo então não dá para esperar que a relação com o psicólogo seja diferente.

Fernando Parede

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Referências
American Psychiatry Association [APA]. (2002). DSM-IV-TR. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. (4a ed., C. Dornelles, trad.). Porto Alegre, RS: Artes Médicas.
GABBARD, GLEN O. Psiquiatria psicodinâmica na prática clínica. Quarta edição. Porto Alegre: Artmed, 2006. 462 págs.