30/10/2016

Diferenças entre TOC e TPOC (Transtorno Obsessivo-compulsivo x Transtorno da Personalidade Obsessivo-compulsiva)

TOC x TPOC
Um mesmo indivíduo pode ter os dois diagnósticos ao mesmo tempo. Veja abaixo as principais diferenças.
TOC TPOC
presença de obsessões1, compulsões2 ou ambas.
Não há obsessões, compulsões e nem pensamentos intrusivos.
As obsessões ou compulsões tomam tempo (p. ex., tomam mais de uma hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. No TPOC são o planejamento e o controle que tomam tempo. “É tão preocupado com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários a ponto de o objetivo principal da atividade ser perdido.
No TOC a rigidez está associada às obsessões e compulsões (p. ex, 60 passos para esterilizar o banheiro antes de tomar banho). O perfeccionismo não se estende, necessariamente para todas as coisas do dia a dia. Demonstra perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas (p. ex., não consegue completar um projeto porque seus padrões próprios demasiadamente rígidos não são atingidos.
No TOC o indivíduo pode deixar de ir trabalhar por não conseguir parar as compulsões. É excessivamente dedicado ao trabalho e à produtividade em detrimento de atividades de lazer e amizades (não explicado por uma óbvia necessidade financeira).
A pessoa com TOC pode envolver outros membros da família em suas compulsões, movidas pelas obsessões. Reluta em delegar tarefas ou trabalhar com outras pessoas a menos que elas se submetam à sua forma exata de fazer as coisas.
Às vezes as compulsões exigem um gasto exagerado, como por exemplo, com produtos de limpeza ou com as contas de água e luz, por tanto tomar banho. Adota um estilo miserável de gastos em relação a si e a outros; o dinheiro é visto como algo a ser acumulado para futuras catástrofes.
Fonte: DSM-5 (2014, p. 237) Fonte: DSM-5 (2014, p. 678, 679)
1 Obsessões são definidas por:
- Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e indesejados e que, na maioria dos indivíduos, causam acentuada ansiedade ou sofrimento.
- O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação.
2 Compulsões são definidas por:
- Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (p. ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas.
- Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos.
Conclusões
O TOC (Transtorno Obsessivo-compulsivo) se caracteriza por obsessões que geram compulsões. Por exemplo, a obsessão por não se contaminar pode gerar a compulsão por lavar as mãos. O medo obsessivo da casa explodir gera uma compulsão por verificar se o gás está vazando.
O TOC é diagnosticado quando a obsessão e a compulsão começam a atrapalhar outras áreas da vida. Quando, por exemplo, alguém não consegue sair de casa e ir trabalhar porque não consegue parar de verificar se a porta foi trancada ou então não consegue dormir porque precisa levantar toda hora para verificar se o fogão está devidamente desligado.
A obsessão pode gerar rituais detalhados que, se não forem seguidos, impedem o indivíduo de exercer suas atividades normais. Gabbard (2006, p. 203) dá um exemplo de um homem que só almoçava depois que sua mãe seguisse um ritual de 58 passos. Se ela não os seguisse detalhadamente teria que começar tudo de novo ou então o sujeito não almoçava. Ou seja, o TOC pode afetar inclusive (direta ou indiretamente) outros membros da família.
O TPOC (Transtorno da Personalidade Obsessivo-compulsiva) se caracteriza por perfeccionismos e controles excessivos. Não há, no TPOC, as obsessões e pensamentos intrusivos como no TOC. O TPOC tem, por padrão, a preocupação com a ordem, o perfeccionismo e o controle. O diagnóstico do TPOC é dado quando se observa que o controle e perfeccionismo impedem a realização da tarefa final. Ou seja, um indivíduo pode perder tanto tempo planejando como fará uma tarefa que não consegue de fato fazê-la. A execução da tarefa não acontece porque o planejamento nunca atinge o grau de perfeccionismo exigido pelo indivíduo. No trabalho, por exemplo, a pessoa com TPOC pode se prejudicar por perder prazos já que usou a maior parte do tempo para planejar do que para executar o serviço.
Fernando Parede
CRP 06/95263
Rua Itaqueri, 882, Mooca
Av. Dr. Gentil de Moura, 174, Ipiranga
(11) 2910-0697 / (11) 9.4011-9204
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Referências:
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.
GABBARD, GLEN O. Psiquiatria psicodinâmica na prática clínica. Quarta edição. Porto Alegre: Artmed, 2006. 462 p.
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23/10/2016

Porque os Transtornos da Personalidade são divididos em grupos

Os Transtornos da Personalidade são divididos em grupos no DSM-5. A saber:
Grupo A: Transtorno da Personalidade Paranoide, Transtorno da Personalidade Esquizoide e Transtorno da Personalidade Esquizotípica.
Grupo B: Transtorno da Personalidade Borderline, Transtorno da Personalidade Antissocial, Transtorno da Personalidade Narcisista e Transtorno da Personalidade Histriônica.
Grupo C: Transtorno da Personalidade Obsessivo-compulsiva, Transtorno da Personalidade Dependente e Transtorno da Personalidade Evitativa.
A divisão em grupos
O DSM-5 (2014, p. 646) diz que “os transtornos da personalidade estão reunidos em três grupos, com base em semelhanças descritivas”. Por isso, como já citei neste texto, os Transtornos da Personalidade do Grupo A se agrupam por serem excêntricos ou estranhos. Os do Grupo B têm em comum a dramaticidade, imprevisibilidade e a irregularidade nas formas de ser e agir. Já os do Grupo C se assemelham pela ansiedade e receosidade.
Mas, atenção! O próprio DSM-5 (2014) demonstra, citando pesquisas, que o indivíduo pode ter concomitância entre grupos diferentes. Ou seja, um indivíduo pode ter traços predominantemente borderlines, mas também apresentar traços de outro transtorno de outro grupo como, por exemplo, traços paranoides.
Abaixo colocarei os Critérios Diagnósticos Gerais do DSM-5 (2014, p. 646) para Transtorno da Personalidade e, depois, os critérios semelhantes em cada transtorno, por grupo:
A. Um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. Esse padrão manifesta-se em duas (ou mais) das seguintes áreas:
1. Cognição (i.e., formas de perceber e interpretar a si mesmo, outras pessoas e eventos).
2. Afetividade (i.e., variação, intensidade, labilidade e adequação da resposta emocional).
3. Funcionamento interpessoal.
4. Controle de impulsos.
B. O padrão persistente é inflexível e abrange uma faixa ampla de situações pessoais e sociais.
C. O padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo e prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
D. O padrão é estável e de longa duração, e seu surgimento ocorre pelo menos a partir da adolescência ou do início da fase adulta.
E. O padrão persistente não é mais bem explicado como uma manifestação ou consequência de outro transtorno mental.
F. O padrão persistente não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., traumatismo craniencefálico).
Observem que os padrões acima, de forma mais ou menos intensa (dependendo do transtorno), estão presentes em todos os Transtornos da Personalidade.
Critérios semelhantes em cada grupo
Critérios semelhantes do Grupo A (características excêntricas ou estranhas)

Paranoide

- Suspeita, sem embasamento suficiente, de estar sendo explorado, maltratado ou enganado por outros. (Estranha)
- Preocupa-se com dúvidas injustificadas acerca da lealdade ou da confiabilidade de amigos e sócios. (Estranha)
- Reluta em confiar nos outros devido a medo infundado de que as informações serão usadas maldosamente contra si. (Estranha)
- Percebe significados ocultos humilhantes ou ameaçadores em comentários ou eventos benignos. (Excêntrica)
- Percebe ataques a seu caráter ou reputação que não são percebidos pelos outros e reage com raiva ou contra-ataca rapidamente. (Estranha)
- Tem suspeitas recorrentes e injustificadas acerca da fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual. (Estranha)
Esquizoide
- Não deseja nem desfruta de relações íntimas, inclusive ser parte de uma família. (Excêntrica)
- Quase sempre opta por atividades solitárias. (Estranha e Excêntrica)
- Tem prazer em poucas atividades, por vezes em nenhuma. (Estranha e Excêntrica)
- Mostra-se indiferente ao elogio ou à crítica de outros. (Estranha e Excêntrica)
Esquizotípica
- Ideias de referência (excluindo delírios de referência). (Estranha e Excêntrica)
- Crenças estranhas ou pensamento mágico que influenciam o comportamento e são inconsistentes com as normas subculturais (p. ex., superstições, crença em clarividência, telepatia ou “sexto sentido”; em crianças e adolescentes, fantasias ou preocupações bizarras). (Estranha e Excêntrica)
- Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões corporais. (Estranha e Excêntrica)
- Pensamento e discurso estranhos (p. ex., vago, circunstancial, metafórico, excessivamente elaborado ou estereotipado). (Estranha)
- Desconfiança ou ideação paranoide. (Estranha)
- Afeto inadequado ou constrito. (Excêntrica)
- Comportamento ou aparência estranha, excêntrica ou peculiar.
- Ansiedade social excessiva que não diminui com o convívio e que tende a estar associada mais a temores paranoides do que a julgamentos negativos sobre si mesmo. (Estranha e Excêntrica)
Critérios semelhantes do Grupo B (características dramáticas, imprevisíveis e irregulares)
Antissocial
- Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos legais, conforme indicado pela repetição de atos que constituem motivos de detenção. (Irregular)
- Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer pessoal. (Imprevisível)
- Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro. (Irregular)
- Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas corporais ou agressões físicas. (Irregular)
- Descaso pela segurança de si ou de outros. (Imprevisível)
- Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida em manter uma conduta consistente no trabalho ou honrar obrigações financeiras. (Irregular)
Borderline
- Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado. (Dramática)
- Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização. (Imprevisível e irregular)
- Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo. (Imprevisível e irregular)
- Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (p. ex., gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar). (Irregular)
- Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante. (Dramática e irregular)
- Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (p. ex., disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias). (Imprevisível e irregular) 
Histriônica
- Desconforto em situações em que não é o centro das atenções. (Dramática)
- A interação com os outros é frequentemente caracterizada por comportamento sexualmente sedutor inadequado ou provocativo. (Irregular)
- Exibe mudanças rápidas e expressão superficial das emoções. (Imprevisível)
- Tem um estilo de discurso que é excessivamente impressionista e carente de detalhes. (Dramática e Irregular)
- Mostra autodramatização, teatralidade e expressão exagerada das emoções. (Dramática)
- Considera as relações pessoais mais íntimas do que na realidade são. (Imprevisível e Irregular) 
Narcisista
Tem uma sensação grandiosa da própria importância (p. ex., exagera conquistas e talentos, espera ser reconhecido como superior sem que tenha as conquistas correspondentes). (Irregular)
- É preocupado com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal. (Irregular)
- Acredita ser “especial” e único e que pode ser somente compreendido por, ou associado a, outras pessoas (ou instituições) especiais ou com condição elevada. (Irregular)
- Demanda admiração excessiva. (Dramática)
- Apresenta um sentimento de possuir direitos (i.e., expectativas irracionais de tratamento especialmente favorável ou que estejam automaticamente de acordo com as próprias expectativas). (Irregular)
- É explorador em relações interpessoais (i.e., tira vantagem de outros para atingir os próprios fins). (Imprevisível)
- Carece de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e as necessidades dos outros. (Imprevisível)
- É frequentemente invejoso em relação aos outros ou acredita que os outros o invejam. (Dramática e irregular)
- Demonstra comportamentos ou atitudes arrogantes e insolentes. (Imprevisível e Irregular)
Critérios semelhantes do Grupo C (características ansiosas e receosas)
Evitativa
- Evita atividades profissionais que envolvam contato interpessoal significativo por medo de crítica, desaprovação ou rejeição. (Receosa)
- Não se dispõe a envolver-se com pessoas, a menos que tenha certeza de que será recebido de forma positiva. (Ansiosa e Receosa)
- Mostra-se reservado em relacionamentos íntimos devido a medo de passar vergonha ou de ser ridicularizado. (Ansiosa e Receosa)
- Preocupa-se com críticas ou rejeição em situações sociais. (Ansiosa)
- Vê a si mesmo como socialmente incapaz, sem atrativos pessoais ou inferior aos outros. (Ansiosa e Receosa)
- Reluta de forma incomum em assumir riscos pessoais ou se envolver em quaisquer novas atividades, pois estas podem ser constrangedoras. (Ansiosa e Receosa)
Dependente
- Tem dificuldades em tomar decisões cotidianas sem uma quantidade excessiva de conselhos e reasseguramento de outros. (Receosa)
- Precisa que outros assumam responsabilidade pela maior parte das principais áreas de sua vida. (Receosa)
- Tem dificuldades em manifestar desacordo com outros devido a medo de perder apoio ou aprovação. (Nota: Não incluir os medos reais de retaliação.) (Ansiosa e receosa)
- Apresenta dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria (devido mais a falta de autoconfiança em seu julgamento ou em suas capacidades do que a falta de motivação ou energia). (Receosa)
- Vai a extremos para obter carinho e apoio de outros, a ponto de voluntariar-se para fazer coisas desagradáveis. (Ansiosa)
- Sente-se desconfortável ou desamparado quando sozinho devido a temores exagerados de ser incapaz de cuidar de si mesmo. (Ansiosa e Receosa)
- Busca com urgência outro relacionamento como fonte de cuidado e amparo logo após o término de um relacionamento íntimo. (Ansiosa e Receosa)
- Tem preocupações irreais com medos de ser abandonado à própria sorte. (Ansiosa e Receosa)
Obsessivo-compulsiva
- É tão preocupado com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários a ponto de o objetivo principal da atividade ser perdido. (Ansiosa e Receosa)
- Demonstra perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas (p. ex., não consegue completar um projeto porque seus padrões próprios demasiadamente rígidos não são atingidos). (Ansiosa e Receosa)
- É excessivamente dedicado ao trabalho e à produtividade em detrimento de atividades de lazer e amizades (não explicado por uma óbvia necessidade financeira). (Ansiosa e Receosa)
- É excessivamente consciencioso, escrupuloso e inflexível quanto a assuntos de moralidade, ética ou valores (não explicado por identificação cultural ou religiosa). (Ansiosa e Receosa)
- É incapaz de descartar objetos usados ou sem valor mesmo quando não têm valor sentimental. (Ansiosa e Receosa)
- Reluta em delegar tarefas ou trabalhar com outras pessoas a menos que elas se submetam à sua forma exata de fazer as coisas. (Receosa)
- Adota um estilo miserável de gastos em relação a si e a outros; o dinheiro é visto como algo a ser acumulado para futuras catástrofes. (Ansiosa e Receosa)
O objetivo deste blog é postar informações sobre os Transtornos da Personalidade. Eu como autor, também aprendo sobre o tema. Por isso se você tem alguma dúvida, sugestão, curiosidade ou correção a fazer, não deixe de publicá-la nos comentários. Será um prazer postá-las.
Fernando Parede
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Referência:
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.

13/10/2016

Transtorno da Personalidade Histriônica

HistriônicaEste transtorno se encontra no Grupo B dos Transtornos da Personalidade, junto ao Transtorno da Personalidade Borderline, Transtorno da Personalidade Narcisista e o Transtorno da Personalidade Antissocial. Se caracteriza por “um padrão difuso de emocionalidade e busca de atenção em excesso que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos” (DSM-5, 2014). Alguns estudos apontam prevalência maior em mulheres.
Os Transtornos da Personalidade se caracterizam por um padrão de comportamentos não esporádicos, ou seja, como uma forma de ser, lidar e se relacionar constante. Os comportamentos histriônicos podem ser induzidos pelo uso de substâncias ou por outra enfermidade médica, mas dessa forma seriam sintomas e não o transtorno em si (DSM-5, 2014).

Sintomas e Diagnóstico

De acordo com o DSM-5 (2014) pessoas com Transtorno da Personalidade Histriônica apresentam pelo menos cinco dos aspectos apontados abaixo:
1. Desconforto em situações em que não é o centro das atenções.
Por exemplo, querer chamar mais atenção que o aniversariante numa festa ou querer chamar mais atenção que a noiva em um casamento. Querer aparecer em todas as filmagens.
2. A interação com os outros é frequentemente caracterizada por comportamento sexualmente sedutor inadequado ou provocativo.
Se utiliza de comportamentos provocantes para ser o centro das atenções.
3. Exibe mudanças rápidas e expressão superficial das emoções.
Principalmente quando a tentativa de se colocar em foco não tem o sucesso esperado.
4. Usa reiteradamente a aparência física para atrair a atenção para si.
Querer se cuidar e ter um corpo bonito não é necessariamente ser histriônico. Este tópico diz respeito à maneira como a pessoa se exibe, por exemplo usando decotes provocantes para chamar a atenção para si em ambiente sociais.
5. Tem um estilo de discurso que é excessivamente impressionista e carente de detalhes.
6. Mostra autodramatização, teatralidade e expressão exagerada das emoções.
Assim conseguindo chamar mais atenção para si.
7. É sugestionável (i.e., facilmente influenciado pelos outros ou pelas circunstâncias).
Sendo assim podem mudar de opinião facilmente, devido às influências de pessoas autoritárias ou modismos.
8. Considera as relações pessoais mais íntimas do que na realidade são.
Frequentemente acham que uma conversa tem segundas intenções e que as pessoas que se aproximam querem se envolver emocional ou sexualmente.

Tratamento

O uso de medicamentos pode ser necessário para controle e redução dos sintomas.
Horowitz e Lerner (2013) descrevem um tratamento psicoterapêutico dividido em quatro fases: estabilização do estado; modificação do estilo comunicativo e de defesas; modificação e integração de padrões interpessoais e, por fim; término do tratamento.
Em outras palavras, resumidamente, a fase um é direcionada a ajudar o paciente a pensar antes de agir. A fase dois se destina a ensinar/ajudar o paciente a refletir sobre suas decisões e interações de forma mais racional em vez de fazer suposições (critério 08) irracionais sobre outras pessoas. A fase três tem o objetivo de identificar e modificar os padrões mal-adaptativos e repetitivos de relacionamento, como por exemplo a teatralidade e expressões exageradas de emoções (critério 06), que na percepção do histriônico pode parecer funcional, mas que atrai indivíduos exploradores. A quarta fase, final, consiste no manejo do término da psicoterapia e no preparo para o desligamento do vínculo.
Os autores salientam que cada paciente exige uma adequação da técnica psicoterapêutica a ser utilizada.
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Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.
HOROWITZ, M. J; LEMER, U. Tratamento do transtorno da personalidade histriônica. In: CLARKIN, J. F; FONAGY, P; GABBARD, G. O. Orgs. Psicoterapia Psicodinâmica para transtornos da personalidade: Um manual clínico. Porto Alegre: Artmed, 2013. pp. 303-323.

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02/10/2016

Transtorno de Personalidade Antissocial

antissocialO comportamento antissocial pode ser observado em outras psicopatologias em maior ou menor grau, como por exemplo no Transtorno de Personalidade Narcisista. Na monografia da pós-graduação escrevi sobre as possibilidades de trabalho psicoterapêutico na Psicoterapia Breve frente às tendências antissociais. Entretanto, como já questionado em outro texto neste blog: Os pacientes com Transtorno de Personalidade Antissocial são casos de psiquiatria e psicoterapia ou são um caso de polícia? Alguns classificam este transtorno como intratável, mas existe uma variação, mesmo dentro da mesma categoria, que pode ir daqueles intratáveis àqueles que podem receber atenção clínica sob algumas condições.

Causas

Estudos apontam uma série de possibilidades tanto internas (biológicas/genéticas) quanto externas (ambiente conturbado, história de abuso, traumas). Entretanto, como aponta Gabbard (2006) essas não seriam as únicas causas (externas) já que os crimes “do colarinho branco” são cometidos por pessoas que não necessariamente passaram por estas situações. Existem prevalências (mais comum em homens do que em mulheres) mas o que definirá o diagnóstico é o conjunto de sintomas apontado abaixo.

Sintomas e diagnóstico

Diferente dos pacientes que têm tendência antissocial como sintoma de algum outro transtorno, os antissociais apresentam um conjunto de sintomas que definem o Transtorno da Personalidade Antissocial.
O Transtorno da Personalidade Antissocial encontra-se no Grupo B dos transtornos da personalidade classificados no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – 5º edição). Neste grupo, além do Antissocial se encontram o Transtorno da Personalidade Borderline, Transtorno da Personalidade Narcisista e Transtorno da Personalidade Histriônica.
No DSM-5 o Transtorno da Personalidade Antissocial é classificado em três capítulos. No capítulo referente aos transtornos da personalidade propriamente, no capítulo referente aos Transtornos de Conduta externalizantes, onde se encontram também os critérios diagnósticos para Piromania e Cleptomania e no capítulo intitulado “Transtornos Relacionados a Substâncias e Transtornos Aditivos”.
Conforme já mencionei em outros textos, os Transtornos da Personalidade se caracterizam por um padrão disfuncional de comportamentos e formas específicas de relacionamento. Sendo assim, colocarei neste tópico o que no DSM-5 (p. 659) está descrito como Critérios Diagnósticos, mas que se refere também aos sintomas:
A. Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas que ocorre desde os 15 anos de idade, conforme indicado por três (ou mais) dos seguintes:
1. Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos legais, conforme indicado pela repetição de atos que constituem motivos de detenção.
2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer pessoal.
3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro.
4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas corporais ou agressões físicas.
5. Descaso pela segurança de si ou de outros.
6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida em manter uma conduta consistente no trabalho ou honrar obrigações financeiras.
7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou racionalização em relação a ter ferido, maltratado ou roubado outras pessoas.
B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade.
C. Há evidências de transtorno da conduta com surgimento anterior aos 15 anos de idade.
D. A ocorrência de comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou transtorno bipolar.
A diferença entre Transtorno da Conduta e o Antissocial não está apenas na idade. O Transtorno da Conduta tem características e critérios diagnósticos próprios e pode aparecer, inclusive, em maiores de 18 anos. Os critérios acima referem-se exclusivamente ao Transtorno da Personalidade Antissocial.
Gabbard (2006) explica que a nomenclatura para o Transtorno de Personalidade Antissocial sofreu alterações ao longo da história. Nas versões anteriores do DSM esta categoria já foi nomeada como Sociopata e Psicopata. Para fins didáticos o autor se refere aos psicopatas como aqueles com um grau elevado do transtorno, considerados intratáveis por outros autores, expondo um continuum que vai desde a psicopatia em um extremo até outros transtornos que apresentam o comportamento antissocial como sintoma e não como o transtorno em si.

Tratamento

Como vimos acima o tratamento vai depender do grau do transtorno. Meloy e Yakeley (2013) apontam pesquisas em que a psicoterapia psicodinâmica de longo prazo se demonstra mais eficaz, entretanto a psicoterapia de grupo, de família ou de outras abordagens teóricas, como a cognitivo-comportamental por exemplo, também podem funcionar. O atendimento multiprofissional em unidades de internação também pode demonstrar bons resultados.
Esses resultados vão variar de paciente para paciente. O tratamento medicamentoso pode se fazer necessário para conter alguns sintomas, como a impulsividade.
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Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.
GABBARD, GLEN O. Psiquiatria psicodinâmica na prática clínica. Quarta edição. Porto Alegre: Artmed, 2006. 462 p.
MELOY, J. R; YAKELEY, J. Tratamento psicodinâmico do transtorno da personalidade antissocial. In: CLARKIN, J. F; FONAGY, P; GABBARD, G. O. Orgs. Psicoterapia Psicodinâmica para transtornos da personalidade: Um manual clínico. Porto Alegre: Artmed, 2013. pp. 324-348.
PAREDE, F. Psicoterapia breve e tendência antissocial – possibilidades do trabalho psicoterapêutico. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Psicologia Clínica, área de concentração em Psicoterapia Breve Psicodinâmica (Latu Sensu). EPSO – Escola de Psicologia de São Paulo do IPPESP – Instituto Paulista de Psicologia, Estudos Sociais e Pesquisa. São Paulo, 2012, 33p.