29/02/2016

Transtornos de Personalidade

Transtornos de PersonalidadeO texto a seguir apresenta definições gerais dos Transtornos de Personalidade, sem a pretensão de fornecer informações para autodiagnóstico.
A divisão por categorias e a definição dos transtornos descrevem características específicas e comuns a cada um deles, mas isso não significa que todos os indivíduos sejam exatamente iguais e que preencham todos os requisitos para diagnóstico, que deve ser feito por profissionais da saúde mental.
Definição Geral
Os Transtornos de Personalidade são caracterizados por um padrão de comportamentos, relacionamentos e pensamentos que se manifestam continuamente afetando o relacionamento interpessoal e social das pessoas que os têm.
O DSM-IV-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 4º edição — revisada) coloca os Transtornos de Personalidade no eixo II, que entre os cinco eixos corresponde aos já citados e ao retardo mental.
Hoje o DSM está na sua 5º edição (DSM-V) e nela a divisão por eixos foi modificada, causando concordâncias e discordâncias, mas por se tratar de um assunto extenso e que foge do propósito principal deste texto não vou me aprofundar nele e levarei em consideração a 4º edição revisada, pela praticidade da classificação e por ser a mais atual antes da quinta edição.
Os critérios diagnósticos para os Transtornos de Personalidade são os mesmos tanto para o DSM-IV-TR quanto para o DSM-V.
Mesmo fazendo parte de um eixo, esses transtornos ainda são divididos em três grupos:
Grupo A: Transtornos de Personalidade Paranoide, Esquizoide e Esquizotípica. Estes transtornos se agrupam por serem excêntricos ou estranhos.
Grupo B: Transtornos de Personalidade Borderline, Narcisista, Antissocial e Histriônica. São transtornos dramáticos, imprevisíveis e/ou irregulares.
Grupo C: Transtornos de Personalidade Obsessivo-compulsiva, Esquiva e Dependente. Se agrupam por serem transtornos ansiosos ou receosos. Nota: No DSM-5 o termo Esquiva foi substituído por Evitativa.
Grupo A
Ter pensamentos paranoides isolados e circunstanciais não caracteriza uma patologia. Já no Transtorno de Personalidade Paranoide esses pensamentos são constantes e comuns ao indivíduo, fazendo parte da forma como ele se relaciona com as pessoas e de como compreende o mundo. Os indivíduos com Transtorno de Personalidade Paranoide sempre suspeitam, sem fundamentos suficientes, serem explorados, enganados, humilhados ou ameaçados.
Esquizofrênicos podem ter pensamentos paranoides constantes, mas isso não significa que tenham uma personalidade paranoide pois nesse transtorno os indivíduos não estão em surto ou em curso de uma condição médica como na Esquizofrenia.
Indivíduos com esse transtorno vivem isolados, tanto por quererem quanto pelo afastamento que causam nas pessoas. São caracterizados pela excentricidade. Alguns procuram ajuda voluntariamente por não suportarem a solidão enquanto outros são levados, a contragosto, pela família ao psiquiatra ou psicólogo. Os esquizoides não têm certeza de quem são. Seus pensamentos e sentimentos são conflitantes apesar de externamente se demonstrarem frios, distantes e indiferentes à criticas ou elogios.
O Transtorno de Personalidade Esquizotípica tem algumas semelhanças com o Esquizoide, pois os indivíduos também vivem isolados, têm aparência excêntrica e indiferença à críticas ou elogios. Mas, diferentemente da categoria citada acima, os esquizotípicos têm ideações paranoides e são desconfiados. Demonstram pensamento e discurso vago, estereotipado e crenças supersticiosas, de clarividência, telepatia (sem estarem de acordo com as normas da subcultura do indivíduo, ou seja, independente de religião).
Grupo B
É o transtorno central deste grupo, afinal os transtornos de personalidade Histriônica e Narcisista podem ser definidos a partir do que diferem deste em questão.
No Transtorno de Personalidade Borderline as pessoas sentem um medo intenso de serem abandonadas e ficarem sozinhas, cultivando relações de exclusividade com os que estão à sua volta e fazendo de tudo para manter essa relação como, por exemplo, cortar os pulsos. Esses atos frequentemente desencadeiam reações adversas dos que convivem com quem tem p transtorno, piorando a situação já que tais comportamentos podem aguçar ainda mais o pavor que o indivíduo com borderline tem pelo abandono. Sendo assim o padrão de relacionamentos interpessoais é sempre instável e intenso.
Até que ponto o amor-próprio é saudável e em qual ponto passa a ser patológico? Esta é uma pergunta difícil de ser respondida pelos profissionais da saúde mental.
Gabbard (2006) menciona um tipo de narcisismo que não é citado no DSM-IV-TR: o narcisismo tímido. Diferentemente do narcisismo clássico o narcisista tímido não espera refletores apontados para si, mas tem uma grandiosidade silenciosa. Em seu livro, Gabbard (2006) os classifica como narcisista distraído e narcisista hipervigilante. Enquanto o narcisista distraído necessita ser o centro das atenções o hipervigilante (tímido) evita.
Os narcisistas têm uma concepção grandiosa acerca do que são, tendo uma impressão de ser especial, exigindo assim, tratamento diferenciado injustificadamente. Podem sentir muita inveja mas sempre se veem como alvo dela.
Os pacientes com Transtorno de Personalidade Antissocial são casos de psiquiatria e psicoterapia ou são um caso de polícia? Alguns classificam este transtorno como intratável, mas existe uma variação, mesmo dentro da mesma categoria, que pode ir daqueles intratáveis àqueles que podem receber atenção clínica sob algumas condições.
Indivíduos com Transtorno de Personalidade Antissocial são incapazes de adequarem-se às normas sociais, executando repetidamente atos ilícitos. São propensos a enganar, mentindo repetidamente, usando documentos falsos para obter vantagem.
São impulsivos, irritáveis e agressivos, envolvendo-se em brigas constantemente, desrespeitando a segurança própria e alheia. Não sentem remorso.
A conduta antissocial pode aparecer secundariamente em outros transtornos.
As pessoas com esse transtorno querem ser o centro das atenções, sentindo certo desconforto quando isso não acontece. Interagem com os outros de maneira inadequada e sexualizada. Mudam rapidamente a forma de expressar emoções.
Costumam considerar os relacionamentos mais íntimos do que realmente são e facilmente são influenciados pelos outros ou pelas circunstâncias.
No Transtorno de Personalidade Histriônica a pessoa demonstra exibicionismo, impulsividade, sedução e desamparo.
Grupo C
O Transtorno de Personalidade Obsessivo-compulsiva (TPOC) é diferente do Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC). Eles se diferenciam pelos sintomas, pelos traços de caráter persistentes e personalidade.
Indivíduos com Transtorno de Personalidade Obsessivo-compulsiva preocupam-se excessivamente com detalhes no planejamento, dispendendo tempo elaborando listas e regras com detalhes não cumprindo o objetivo de efetuar a tarefa. São tão perfeccionistas que não conseguem terminar uma tarefa por não atingir os próprios padrões demasiadamente rígidos.
Em geral são muito devotados ao trabalho, a ponto de não terem momentos de lazer e são rígidos e inflexíveis nas questões morais, éticas e de valores.
Relutam em delegar tarefas e são teimosos.
Os indivíduos com esse transtorno se sentem frágeis perante os outros. Veem as pessoas como ameaça e por isso preferem evitar contatos. Entre os fóbicos sociais, o Transtorno de Personalidade Esquiva é o que mais aparece.
A característica principal desse transtorno é a inibição social, sentimento de inadequação e medo do julgamento negativo, ainda que sem justificativa ou fundamento real para essa avaliação.
Este transtorno pode atrapalhar a vida pessoal, social e profissional do indivíduo que, por se sentir inadequado e ter medo de novas responsabilidades e relações (que podem acarretar em novas críticas) evita fazer novas amizades ou aceitar uma promoção no trabalho. Preferem ficar “invisíveis”.
Transtorno de Personalidade Dependente
Pessoas com Transtorno de Personalidade Dependente têm grande dificuldade de tomar decisões sendo passivas na vida, deixando que as escolhas sejam feitas sempre pelo outro. Chegam a perguntar o que vestir, o que comprar etc, pois não conseguem decidir sozinhas.
Os dependentes necessitam dos outros para assumirem a responsabilidade em grandes decisões. Procuram parceiros que os protejam e os cuidem, estabelecendo relações amorosas de dependência.

Fernando Parede

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Referências
AMARAL, Márcio. DSM-5: Perdendo os eixos... Definitivamente. Disponível em:<http://www.ipub.ufrj.br/portal/ensino-e-pesquisa/ensino/residencia-medica/blog/item/477-dsm-5-perdendo-os-eixosdefinitivamente>. Acesso em 28 de fev. 2016.
American Psychiatry Association [APA]. (2002). DSM-IV-TR. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. (4a ed., C. Dornelles, trad.). Porto Alegre, RS: Artes Médicas.
ARAÚJO, Álvaro Cabral; NETO, Francisco Lotufo. A Nova Classificação Americana Para os Transtornos Mentais: o DSM-5. Disponível em:<http://www.usp.br/rbtcc/index.php/RBTCC/article/viewFile/659/406> Acesso em 28 de fev. 2016.
BARROS NETO, Tito Paes de; LOTUFO NETO, Francisco. Transtornos de personalidade em pacientes com fobia social. Rev. psiquiatr. clín., São Paulo , v. 33, n. 1, p. 3-9, 2006. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832006000100001&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 28 Fev. 2016.
GABBARD, GLEN O. Psiquiatria psicodinâmica na prática clínica. Quarta edição. Porto Alegre: Artmed, 2006. 462 págs.
RENNA, M. A. L. Transtorno de Personalidade Esquiva. Disponível em:<http://www.psicnet.psc.br/v2/site/dicionario/registro_default.asp?ID=404>. Acesso em 28 de fev. 2016.
VIEGA, S. Como detectar o transtorno de personalidade dependente. Disponível em:<http://saude.umcomo.com.br/articulo/como-detectar-o-transtorno-de-personalidade-dependente-4639.html>. Acesso em 28 de fev. 2016.

26/02/2016

A Mentira

Provavelmente você ja deve ter ouvido os termos Mentira Compulsiva, Mentira Patológica ou até mesmo Mitomania, ou seja, pessoas que mentem demais. Este é um assunto que sempre me indagou então decidi fazer algumas leituras para entender um pouco melhor o tema. Encontrei muitos artigos esclarecedores e gostaria de compartilhar um pouco do que li, com vocês. Será um breve resumo para não ficar um texto muito extenso, mas os links estarão abaixo para quem quiser ler mais.

 A afirmação de que todos nós mentimos está presente em quase todas as redações, apesar de não serem citadas pesquisas que comprovem isso. Enfim, supondo que isso seja verdade, a diferença está justamente na condição da mentira, ou seja, no porquê, quando, onde e quantas vezes eu, você e as outras pessoas mentem.

 Existe de fato a Mentira Compulsiva, na qual a pessoa tem a compulsão por mentir e não consegue controlar esse impulso, como um vício. O mentiroso compulsivo/patológico pode desenvolver a doença por ter vivenciado situações nas quais a mentira proporcionou algum alívio, seja de algum sentimento ou realidade ruins. Entretanto, ao desenvolver a compulsão por mentir o objetivo não é mais lidar com algo frustrante ou decepcionante. A mentira torna-se um hábito, um vício incontrolável. O mentiroso compulsivo tem consciência da sua situação e sofre por conta disso, pois suas mentiras ocasionam em graus diferentes, prejuízos aos outros e a si, afinal, quanto mais uma pessoa mente mais fica difícil administrar as mentiras.

 Outra situação em que a mentira ocorre para compensar uma dor, sentimentos ruins ou realidade inaceitável é na Mitomania. Entretanto, a mentira nesse caso é mais fantasiosa, parecida com um delírio. O mitômano, diferente do mentiroso compulsivo, acredita em suas mentiras, sem ter a consciência de mentir.

 Nos casos acima a mentira aparece como fator principal da doença, mas em outros casos pode aparecer como sintoma de outros transtornos. Os mais citados são a Depressão e o Transtorno de Personalidade Antissocial.

 Enfim, como havia mencionado no começo do texto, a mentira isolada não é suficiente para diagnóstico. Há necessidade de saber quantas vezes, como e porque se mente, identificando assim o foco do problema. 

 Em casos não patológicos, em geral, a mentira também ocorre como uma defesa. Por exemplo, para lidar com um sentimento de inferioridade, um garoto pode contar histórias muto mais extraordinárias do que realmente aconteceram para seus amigos, ou então, difamar alguém para sentir-se superior. Quanto maior a mentira, maior o sentimento a ser encoberto. 

 Em casos de comportamentos mal aceitos pela sociedade, a mentira é usada para encobrir a realidade, mas isso também vai depender de como a pessoa percebe sua própria realidade, de qual sentimento ela tem diante às pessoas.

Fernando Parede
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Referências

Ballone GJ - Sobre a Mentira - in. PsiqWeb, Internet, disponível em <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=246>. Acesso em 04/01/2015.

Ballone GJ, Meneguette JP - Transtornos da Personalidade, PsiqWeb, internet, disponível em <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=180>. Acesso em 03/01/2014.

Fischer C. P; Fontes M. A. Mitomania ou mentira compulsiva: O que você precisa saber
sobre este hábito? Disponível em <http://50.23.205.16/~cemp/arquivos/32622_61.pdf>. Acesso em 04/01/2014

Martins, P. C. R. As Várias Faces da Mentira: A Verdade Esclarecida? Disponível em <http://www.aems.com.br/conexao/edicaoatual/Sumario-2/downloads/2013/3/1%20%2838%29.pdf> Acesso em 03/01/2014

Psicoterapia

  
As pessoas que tem dificuldades de relacionamento, problemas no trabalho, timidez, ansiedades, stress, entre outras coisas; podem se beneficiar muito com a psicoterapia.

 A partir dos relatos do paciente, o psicólogo tem condições de avaliar traços de sua personalidade bem como suas dificuldades e facilidades, seja no ambiente familiar, de trabalho, ou social; trazendo à luz as raízes dos problemas e a assim fornecendo apoio, compreensão e suporte para a resolução dos mesmos. 

 Dependendo da situação do paciente o acompanhamento não é feito somente pelo psicólogo, mas sim por uma equipe que pode ser formada por diversos profissionais de outras áreas.

 O psicólogo pode (e deve) indicar a procura de outros profissionais da saúde caso constate essa necessidade.

 Além das dificuldades emocionais citadas acima, a psicoterapia também é indicada para tratamento de outras disfunções como Depressão, Pânico, Fobias, TOC, Transtornos de Personalidade, Traumas entre outras.

 Não é preciso estar passando por uma grande crise para procurar um psicólogo, afinal os benefícios da psicoterapia podem ser de carater preventivo a partir do autoconheciento que se adquire. Em outras palavras, não é preciso estar louco para se beneficiar da psicoterapia. 


Fernando Parede
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