21/05/2016

Transtorno de Personalidade Esquizotípica

esquizotípica
O Transtorno de Personalidade Esquizotípica se caracteriza por um déficit nos relacionamentos íntimos e interpessoais, além de distorções cognitivas/perceptivas e comportamento excêntrico.
É um transtorno classificado no grupo A dos transtornos de personalidade. Junto com ele, estão nessa classificação o Transtorno de Personalidade Paranoide e o Transtorno de Personalidade Esquizoide.
O indivíduo com este transtorno sente um intenso incômodo nas relações, tendo todas ou algumas (pelo menos cinco) das características descritas no DSM-V. A saber:
1. Ideias de referência (excluindo delírios de referência).
Achar que algum acontecimento casual e/ou externo tem um significado especial. Por exemplo: "o lápis caiu da minha mesa porque Deus quer me passar uma mensagem".
2. Crenças estranhas ou pensamento mágico que influenciam o comportamento e são inconsistentes com as normas subculturais (p. ex., superstições, crença em clarividência, telepatia ou “sexto sentido”; em crianças e adolescentes, fantasias ou preocupações bizarras).
Os exemplos acima são do próprio DSM.
Pensamento mágico, em resumo, é achar que o mundo físico pode ser modificado pelo pensamento.
Excetuam-se as crenças vindas da religião. No caso do Transtorno de Personalidade Esquizotípica as crenças não são justificadas pela religião do indivíduo, sendo assim inconsistentes.
3. Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões corporais.
Numa conversa, por exemplo, se enxergar de fora dela, como se estivesse se observando.
4. Pensamento e discurso estranhos (p. ex., vago, circunstancial, metafórico, excessivamente elaborado ou estereotipado).
Aqui os exemplos também são do próprio DSM.
5. Desconfiança ou ideação paranoide.
Escrevi sobre paranoia neste artigo. Na ideação paranoide o indivíduo desconfia que está sendo perseguido ou tratado de forma injusta.
6. Afeto inadequado ou constrito.
Inadequado quando a fala não está de acordo com a ação/demonstração. Constrito quando a expressão das emoções é reduzida e inexpressiva.
7. Comportamento ou aparência estranha, excêntrica ou peculiar.
8. Ausência de amigos próximos ou confidentes que não sejam parentes de primeiro grau.
9. Ansiedade social excessiva que não diminui com o convívio e que tende a estar associada mais a temores paranoides do que a julgamentos negativos sobre si mesmo.
Falei um pouco sobre o isolamento social neste artigo. Indivíduos esquizoides ou esquizotípicos preferem o isolamento como uma forma de defesa ao abandono. A frase “se eu te abandonar primeiro, não corro o risco de ser abandonado por você” descreve bem esse pensamento.
Alguns estudos comprovaram a relação entre familiares com Esquizofrenia e Transtorno de Personalidade Esquizotípica, o que aponta uma causa (também) genética.
Atenção! O transtorno de Personalidade Esquizotípica não é a Esquizofrenia e nem antecessor dela. Apesar de alguns autores o descreverem como uma versão branda da Esquizofrenia isso não significa que o transtorno se desenvolva para ela.

 

Diagnóstico

Os critérios acima, descritos no DSM-V, dão um norte para o diagnóstico, que deve ser feito pelo profissional da saúde mental (psicólogo e psiquiatra) afinal, como por exemplo no critério 01, deve se saber diferenciar ideias de referência de delírios.

Psicoterapia

Indivíduos esquizotípicos podem se beneficiar mais do que os esquizoides em psicoterapia devido à sua maior disponibilidade afetiva.
Remédios em dosagens baixas podem ser necessários. Ajudam na diminuição dos sintomas obsessivos e depressivos.
Os sentimentos provenientes da ansiedade social também aparecem na psicoterapia. O incômodo intenso em relacionamentos íntimos do dia a dia também é sentido na relação terapêutica. Por isso, assim como indivíduos paranoides e esquizoides, os esquizotípicos raramente procuram ajuda e muitas vezes são levados ao profissional (psicólogo ou psiquiatra) de forma forçada por algum familiar. Sendo assim, o silêncio muitas vezes é a forma principal de comunicação do paciente.
É na psicoterapia que o paciente esquizotípico pode dar novo significado às suas relações.
Fernando Parede
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Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.
GABBARD, GLEN O. Psiquiatria psicodinâmica na prática clínica. Quarta edição. Porto Alegre: Artmed, 2006. 462 págs.
WILLIAMS, PAUL. Tratamento psicoterapêutico dos transtornos da personalidade do grupo A. In: CLARKIN, J. F; FONAGY, P; GABBAERD, G. O. (OrgS.). Psicoterapia Psicodinâmica para transtornos da personalidade – Um manual clínico. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 181-201.