02/10/2016

Transtorno de Personalidade Antissocial

antissocialO comportamento antissocial pode ser observado em outras psicopatologias em maior ou menor grau, como por exemplo no Transtorno de Personalidade Narcisista. Na monografia da pós-graduação escrevi sobre as possibilidades de trabalho psicoterapêutico na Psicoterapia Breve frente às tendências antissociais. Entretanto, como já questionado em outro texto neste blog: Os pacientes com Transtorno de Personalidade Antissocial são casos de psiquiatria e psicoterapia ou são um caso de polícia? Alguns classificam este transtorno como intratável, mas existe uma variação, mesmo dentro da mesma categoria, que pode ir daqueles intratáveis àqueles que podem receber atenção clínica sob algumas condições.

Causas

Estudos apontam uma série de possibilidades tanto internas (biológicas/genéticas) quanto externas (ambiente conturbado, história de abuso, traumas). Entretanto, como aponta Gabbard (2006) essas não seriam as únicas causas (externas) já que os crimes “do colarinho branco” são cometidos por pessoas que não necessariamente passaram por estas situações. Existem prevalências (mais comum em homens do que em mulheres) mas o que definirá o diagnóstico é o conjunto de sintomas apontado abaixo.

Sintomas e diagnóstico

Diferente dos pacientes que têm tendência antissocial como sintoma de algum outro transtorno, os antissociais apresentam um conjunto de sintomas que definem o Transtorno da Personalidade Antissocial.
O Transtorno da Personalidade Antissocial encontra-se no Grupo B dos transtornos da personalidade classificados no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – 5º edição). Neste grupo, além do Antissocial se encontram o Transtorno da Personalidade Borderline, Transtorno da Personalidade Narcisista e Transtorno da Personalidade Histriônica.
No DSM-5 o Transtorno da Personalidade Antissocial é classificado em três capítulos. No capítulo referente aos transtornos da personalidade propriamente, no capítulo referente aos Transtornos de Conduta externalizantes, onde se encontram também os critérios diagnósticos para Piromania e Cleptomania e no capítulo intitulado “Transtornos Relacionados a Substâncias e Transtornos Aditivos”.
Conforme já mencionei em outros textos, os Transtornos da Personalidade se caracterizam por um padrão disfuncional de comportamentos e formas específicas de relacionamento. Sendo assim, colocarei neste tópico o que no DSM-5 (p. 659) está descrito como Critérios Diagnósticos, mas que se refere também aos sintomas:
A. Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas que ocorre desde os 15 anos de idade, conforme indicado por três (ou mais) dos seguintes:
1. Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos legais, conforme indicado pela repetição de atos que constituem motivos de detenção.
2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer pessoal.
3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro.
4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas corporais ou agressões físicas.
5. Descaso pela segurança de si ou de outros.
6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida em manter uma conduta consistente no trabalho ou honrar obrigações financeiras.
7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou racionalização em relação a ter ferido, maltratado ou roubado outras pessoas.
B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade.
C. Há evidências de transtorno da conduta com surgimento anterior aos 15 anos de idade.
D. A ocorrência de comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou transtorno bipolar.
A diferença entre Transtorno da Conduta e o Antissocial não está apenas na idade. O Transtorno da Conduta tem características e critérios diagnósticos próprios e pode aparecer, inclusive, em maiores de 18 anos. Os critérios acima referem-se exclusivamente ao Transtorno da Personalidade Antissocial.
Gabbard (2006) explica que a nomenclatura para o Transtorno de Personalidade Antissocial sofreu alterações ao longo da história. Nas versões anteriores do DSM esta categoria já foi nomeada como Sociopata e Psicopata. Para fins didáticos o autor se refere aos psicopatas como aqueles com um grau elevado do transtorno, considerados intratáveis por outros autores, expondo um continuum que vai desde a psicopatia em um extremo até outros transtornos que apresentam o comportamento antissocial como sintoma e não como o transtorno em si.

Tratamento

Como vimos acima o tratamento vai depender do grau do transtorno. Meloy e Yakeley (2013) apontam pesquisas em que a psicoterapia psicodinâmica de longo prazo se demonstra mais eficaz, entretanto a psicoterapia de grupo, de família ou de outras abordagens teóricas, como a cognitivo-comportamental por exemplo, também podem funcionar. O atendimento multiprofissional em unidades de internação também pode demonstrar bons resultados.
Esses resultados vão variar de paciente para paciente. O tratamento medicamentoso pode se fazer necessário para conter alguns sintomas, como a impulsividade.
Fernando Parede
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Imagem: Grátis do pixabay
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.
GABBARD, GLEN O. Psiquiatria psicodinâmica na prática clínica. Quarta edição. Porto Alegre: Artmed, 2006. 462 p.
MELOY, J. R; YAKELEY, J. Tratamento psicodinâmico do transtorno da personalidade antissocial. In: CLARKIN, J. F; FONAGY, P; GABBARD, G. O. Orgs. Psicoterapia Psicodinâmica para transtornos da personalidade: Um manual clínico. Porto Alegre: Artmed, 2013. pp. 324-348.
PAREDE, F. Psicoterapia breve e tendência antissocial – possibilidades do trabalho psicoterapêutico. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Psicologia Clínica, área de concentração em Psicoterapia Breve Psicodinâmica (Latu Sensu). EPSO – Escola de Psicologia de São Paulo do IPPESP – Instituto Paulista de Psicologia, Estudos Sociais e Pesquisa. São Paulo, 2012, 33p.

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